Em 1833, em Paris, Antônio Frederico Ozanam, então estudante com 20 anos de idade, e alguns jovens amigos sentiram com Emanuel Bailly, o mais idoso, a inspiração de se unirem para o serviço aos pobres, da maneira mais humilde e discreta, no âmbito de sua vida familiar e profissional dos leigos.

Sentiam, primeiramente, a necessidade de dar testemunho de sua fé cristã, mais por atos que com palavras. Consideravam como seus irmãos, os infelizes, quaisquer que fossem eles e a espécie de seu sofrimento. Neles viam o Cristo sofredor. Amavam-nos como homens confrontados com o mundo e suas misérias, e também a dignidade daqueles aos quais, em primeiro lugar, é dado o Reino de Deus.

Desde que entraram em contato pessoal com os pobres, perceberam que a caridade é inseparável das exigências da justiça. Assim, reivindicaram-na para os pobres. Mas, se nem sempre é possível obter justiça aqui na Terra, quiseram fazer, ao menos, o que dependia dos próprios, simples estudantes: dar, pessoalmente, aquilo que o mais pobre pode dar, a partilha do seu tempo, de seus modestos recursos, de sua presença, de seu diálogo, e tudo o que pode ser feito para tentar ajudar eficazmente.

Partindo daí, pareceu-lhes que para compreender os pobres é preciso primeiramente ser pobre com eles.

Assim vivida, aquela que ia tornar-se a Sociedade de São Vicente de Paulo, não podia senão chamá-los ao aprofundamento de sua vida espiritual. Viver em contato pessoal com os que sofrem, viver unidos em comum e com tal espírito, é a própria essência, o caráter original da Sociedade de São Vicente de Paulo. Para a época e da parte de leigos, a iniciativa de Ozanam e seus amigos exprime uma antecipação profética. Aspiravam nas próprias fontes da Palavra de Deus e da tradição cristã.

Antônio Frederico Ozanam (1813-1853)